Zsuzsanna Kolbert, professora associada da Universidade de Szeged, na Hungria, está passando três meses na Universidade Estadual de Londrina (UEL) como parte de um intercâmbio científico. Com duas décadas de experiência em biologia vegetal e reconhecimento internacional na área de fisiologia do óxido nítrico, ela veio ao Brasil motivada pelo trabalho pioneiro do professor Halley Caixeta e de seu grupo. Sua estadia tem sido uma oportunidade não apenas para avançar em projetos de pesquisa colaborativos, mas também para compreender melhor como o conhecimento científico pode ser aplicado na prática, em conexão com o setor produtivo.

De Szeged a Londrina: duas décadas dedicadas à biologia vegetal
A professora Zsuzsanna Kolbert atua no Departamento de Biologia Vegetal da Universidade de Szeged, onde trabalha há mais de 20 anos. Ela lidera o grupo de pesquisa MTA-SZTE Momentum Plant NaNObiology e concilia atividades de ensino e pesquisa. Sua especialidade científica está na fisiologia do óxido nítrico em plantas, área na qual construiu uma sólida trajetória internacional.
Nos últimos anos, passou a se interessar também pelas interações entre o óxido nítrico e as nanopartículas — um campo que conecta a fisiologia molecular vegetal a novas abordagens da nanobiotecnologia.
Sua instituição, a Universidade de Szeged, é uma das mais antigas e importantes da Hungria, com mais de 200 anos de história. Localizada no sul do país, próxima à fronteira com a Sérvia, é reconhecida como uma das principais universidades de pesquisa da Hungria, com 12 faculdades, incluindo a de Ciências e Informática, onde Kolbert atua.
Uma conexão pioneira: por que o Brasil se tornou um destino
Kolbert conheceu o trabalho do professor Halley Caixeta há alguns anos, em uma conferência científica. O ponto em comum foi a pesquisa com nanopartículas liberadoras de óxido nítrico, especialmente doadores de óxido nítrico encapsulados em quitosana. “O professor Halley é um pioneiro nessa área, e o grupo dele tem muita experiência com nanoencapsulação e com o estudo dos efeitos dessas nanopartículas”, explica. Essa conexão a motivou a vir para a UEL, aprender mais sobre o trabalho do grupo e realizar experimentos colaborativos.
Sua estadia no Brasil também tem sido uma oportunidade para observar mais de perto como a pesquisa aplicada é desenvolvida em parceria com empresas e com o setor produtivo. Com uma formação fortemente voltada para os aspectos fundamentais e mecanísticos da fisiologia vegetal, ela quis ampliar sua perspectiva e entender como os resultados da ciência básica podem chegar à sociedade.
Além da pesquisa, conseguiu realizar outro desejo: lecionar no Brasil. Com o apoio do professor Halley, ministrou oito aulas sobre fisiologia do óxido nítrico para alunos de graduação e pós-graduação na UEL. “Foi muito bom falar sobre o meu tema favorito aqui. E acredito que foi útil para os estudantes”, comenta.
Zinco, carbon dots e o mundo microscópico das plantas
Durante os três meses em Londrina, a professora Kolbert trabalhou em dois projetos principais.
O primeiro projeto tem como foco nanopartículas de óxido de zinco com diferentes propriedades. A hipótese é que características como tamanho e carga superficial influenciem sua capacidade de liberar zinco e, consequentemente, de aumentar os níveis desse nutriente dentro das plantas. Para o estudo, ela utilizou a planta-modelo Arabidopsis thaliana e uma combinação de nanopartículas sintéticas, biogênicas e comerciais. “Como principal resultado, descobrimos diferenças entre as nanopartículas, e aquelas com carga superficial positiva foram as mais eficientes, possivelmente devido à interação com a superfície radicular, que é negativamente carregada”, observa.
O segundo projeto investiga os carbon dots, nanopartículas extremamente pequenas e com propriedades fluorescentes. O objetivo foi estudar como essas partículas são internalizadas pelas raízes das plantas. Kolbert testou a hipótese de que a endocitose mediada por clatrina está envolvida nesse processo. Para isso, utilizou abordagens genéticas e farmacológicas, incluindo mutantes de Arabidopsis deficientes nesse mecanismo. “Atualmente estou finalizando esses experimentos, e o plano é publicar os resultados”, explica.
Ciência sem fronteiras: construindo pontes pela colaboração
Um dos aspectos mais enriquecedores da estadia de Kolbert tem sido a natureza colaborativa e multidisciplinar da pesquisa. No projeto com óxido de zinco, ela trabalhou em estreita parceria com químicos de São Paulo, responsáveis pela preparação e caracterização das nanopartículas, e com físicos da UEL, que contribuíram com medições de níveis de zinco usando técnicas avançadas. Já no projeto com carbon dots, ela colabora com pesquisadores do Mato Grosso, adicionando mais uma dimensão importante às suas parcerias no Brasil.
Essa rede de colaborações evidencia a importância das parcerias entre universidades e da integração de diferentes áreas do conhecimento. É por meio desse tipo de cooperação que questões complexas da nanobiotecnologia vegetal podem ser enfrentadas e que a ciência pode se aproximar de aplicações concretas.

A estadia da professora Zsuzsanna Kolbert na UEL uniu sua longa experiência em fisiologia do óxido nítrico ao trabalho pioneiro com nanopartículas liderado pelo professor Halley Caixeta. Além de avançar em dois projetos promissores, sua presença fortaleceu a dimensão internacional do INCT NanoAgro e abriu novas oportunidades de intercâmbio entre a ciência húngara e a brasileira.
Sua visita mostra como colaborações baseadas em pesquisa fundamental podem se expandir para contextos aplicados, contribuindo tanto para o avanço científico quanto para o desenvolvimento de inovações com impacto na agricultura e além dela.







